Sunday, December 3, 2006

«Ainda abres uma ourivesaria»



Valentim Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Gondomar e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o antigo presidente do Gondomar Sport Clube (GSC), José Luís Oliveira, e o ex-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (CA), Pinto de Sousa, são os principais visados na acusação do processo «Apito Dourado».
De acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário, as cerca de 400 páginas da acusação descrevem pormenorizadamente a estratégia alegadamente criminosa que estes três arguidos empreenderam no sentido de angariar árbitros amigos para os jogos em que o GSC interviesse.
O documento elenca os vários contactos telefónicos entre o antigo presidente do GSC e o ex-presidente do Conselho de Arbitragem, sempre com o conhecimento e algumas vezes mesmo com a intervenção de Valentim Loureiro. Igualmente descritas ao pormenor são as conversas telefónicas, os almoços e jantares com os árbitros, bem como as ofertas em ouro que, segundo as intercepções telefónicas descritas na acusação, chegavam, por vezes, a contemplar também as namoradas e mulheres dos árbitros.
No final de um jogo, em Janeiro de 2004, o arguido Pedro Sanhudo, árbitro da Associação de Futebol do Porto, conversava ao telefone com um colega a quem confidenciava, entre risos, ter recebido do GSC «umas correntes que aquela m.... pesa para aí dez quilos», ao que lhe respondia, no mesmo tom bem disposto, o colega: «daqui a pouco... ides abrir uma ourivesaria».
Todas as peças em ouro eram adquiridas pelo arguido José Luís Oliveira na ourivesaria do também arguido Neves Ribeiro para serem oferecidas a equipas de arbitragem. De cada vez eram adquiridos três fios com cruz ou três pulseiras no valor total não superior a 700 euros.
Numa das intercepções telefónicas mais embaraçosas para Valentim Loureiro, registada em Dezembro de 2003, o autarca de Gondomar liga ao assessor do Conselho de Arbitragem, António Garrido, observador no jogo SC Dragões Sandinenses/ Gondomar Sport Clube, a pedido de José Luís Oliveira. E com o intuito de evitar que este influencie o relatório do jogo ter-lhe-á dito: «Oh Garrido, dou-lhe um conselho: não se meta nisto», «senão tomo medidas e limpo-o do futebol». «Você deve evitar ..é meter-se em áreas para f.... alguma instituição a que eu esteja minimamente ligado».
Noutros passos da acusação são descritas movimentações do dirigente do GSC com membros do CA a fim de evitar que os observadores de árbitros assistam aos jogos. Tudo para permitir que os árbitros amigos trabalhem mais à vontade.
José Luís Oliveira é acusado de 26 crimes de corrupção activa, sob a forma de autoria, e de 21 crimes de corrupção desportiva activa. Pinto de Sousa está acusado de 26 crimes de corrupção passiva para acto ilícito e Valentim Loureiro também é acusado de 26 crimes de corrupção activa sob a forma de cumplicidade e dois crimes de prevaricação, estes últimos relacionados com a gestão autárquica, concretamente com o alegado favorecimento da empresa de um amigo num concurso para a elaboração de uma revista sobre a autarquia. Noutro caso está em causa a não concretização de uma ordem de demolição de obras de ampliação ilegais na casa de outro amigo.

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